
Por: CARLOS ROSA MOREIRA
29/11/2021
20:03:29
AH, VOCÊ NUMA TARDE EM ITAPUÃ...

...Não é
não, boba, sinto dor não, nem saudade; sinto felicidade por ter visto você
naquela praia longa e deserta, numa tarde perdida de nossas vidas. Você
caminhava pela areia e às vezes deixava as águas tépidas do mar de Itapuã
molharem seus pés. Eu vigiava você com seu biquíni azul-marinho à procura de
búzios na areia. Os mesmos búzios com os quais os babalorixás consultam seus
deuses e que também enfeitavam seu biquíni. Todo homem devia apreciar a amada
vindo de longe, imersa em distrações, sem se perceber observada. Mas tem de ser
a mulher amada, aquela amada pra valer,
à qual dedicamos todos os tempos e espaços, pelo menos naquele instante da
vida. Era assim que você vinha, com suas distrações, solta, livre, tornando-se
para sempre uma doçura em minhas lembranças. Eu a olhava embevecido, orgulhoso
por tê-la, cheio de intenções por sabê-la minha. Meu olhar a atraiu, você
sorriu e eu vi seus dentes pequenos e perfeitos, e desejei que voltasse logo
para perto de mim, para abraçá-la e sentir seus dentes em minha boca. À noite,
em nossa casinha de pano, falávamos de amor enquanto ouvíamos os coqueiros
dizerem coisas entre si, e eu cuidava de sua pele branca de carcamana que ardeu
ao sol de Itapuã. Cedinho, você sempre dormia. Eu caminhava até a água, bem
ali, a poucos passos da nossa casa. Recebia aquele afago morno das ondas
mansas, depois me sentava na areia, diante do mar que inaugurava um verde novinho todas as manhãs. E me sentia um
rei só por ter você, e, sem saber, por não ter passado. Tínhamos apenas o
desconhecido. Você logo acordaria para viver comigo esse desconhecido, tão sem tamanho
quanto o mar de Itapuã.
Hoje, sou um homem feio, cheio
de cicatrizes que desfiguram minha face. Aquela jovem de corpo perfeito e olhos
brilhantes não olharia para mim. Tenho um passado e espero por algum futuro,
mais um pouco pelo menos. Disseram-me que já não existem os serenos coqueirais
nos longos espaços da praia de Itapuã. E a igrejinha da Praça Caymmi,
referência naqueles tempos, é hoje humilde alegoria do passado. O desconhecido
tornou-se conhecido. Mas isso não importa, também não ligo se me considera um
nostálgico e não dê importância a essas lembranças. Saiba que ainda percebo o
arrepio em nossa pele queimada pelo sol daquelas tardes, pois havia sempre um
friozinho gostoso trazido pelo vento do mar. Do mar que Vinícius cantou e
contou que se encontrava com o céu, onde até hoje meus olhos se esquecem, e se
lembram de que a Terra toda rodava enquanto eu adormecia em seus braços, sob a
Lua morena de Itapuã.
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