CARLOS ROSA MOREIRA
CARLOS ROSA MOREIRA
Membro do Cenáculo Fluminense de História e Letras, da Academia Niteroiense de Letras e da Associação Niteroiense de Escritores. Tem oito livros publicados, todos de crônicas e contos.

Por: CARLOS ROSA MOREIRA

01/09/2021

13:43:21

O INFERNO VERDE DO MEU AVÔ

O escritório ficava no quarto dos fundos. À tardinha meu avô acendia a lâmpada do abajur sobre a escrivaninha. A luz amarelada clareava os papéis e o grande mapa do Brasil preso à parede, deixando o resto do quarto numa penumbra aconchegante...
O INFERNO VERDE DO MEU AVÔ
.Era aquele ambiente hierático o mundo do meu avô, e a mim era permitido entrar ali. Havia o cheiro dos livros, do tinteiro de caneta Parker, das madeiras da escrivaninha e dos móveis. Na grande estante, as portas de vidro protegiam a biblioteca.

   Curiosos e extáticos meus olhos percorriam as lombadas, fixando-se numa e noutra, escolhendo um exemplar sem saber bem o porquê. Retirava o livro com respeito e cuidado, tomava-o nas mãos, lia-o em horas ocultas. Nada fazia de errado e nada me era proibido, mas desvendar aquelas páginas era abrir janelas e apreciar insólitas paisagens a se estenderem diante do meu olhar, e essas descobertas eu as queria só para mim, resguardadas de influências. Meu avô incentivava-me a leitura e qualquer interesse que eu demonstrasse transformava-se em pesquisa. 

Havia um traço azulado sutil marcado a caneta percorrendo o mapa do Brasil a partir do Leste, entrando pelo Centro-Oeste e terminando no Norte, em Manaus. Aquela seria a viagem que faríamos. A Amazônia estava presente nos sonhos do meu avô, a única região do país que não conhecia. Deu-me para ler “A Amazônia Misteriosa”, de Gastão Cruls. As expressões “Inferno Verde” e “Floresta de três andares”, eufemismos para as riquezas da região, impressionavam-me. 

Ele poderia ter conhecido outros países, mas era o Brasil autêntico que o atraía. E o meu avô, feito o empresário paulista, tinha “uma fé inabalável neste país”. Também tenho, pois o que existe aqui é obra divina, embora não se faça outra coisa desde a descoberta a não ser destruir a obra de Deus. Os brasileiros são pecadores, vão conseguir desfazer toda a riqueza recebida do Poderoso! O Papa podia excomungar todo mundo. Seríamos um país de excomungados.

            Hoje, ainda percorro as lombadas de muitos daqueles livros que pertenceram ao meu avô. E recordo seu olhar firme e amigo ajudando-me a enxergar, incentivando-me a viajar. Dizer “Inferno Verde” tornou-se “politicamente incorreto”, mas naquele tempo era assim que chamávamos a nossa longínqua Amazônia. E era um tempo de sonhos, de fé, de crença num futuro à la Stefan Zweig e à la meu avô, um tempo de distâncias imensas e pouca informação. As distâncias diminuíram e, assim, diminuiu o Brasil. Meu avô não viu isso, graças a Deus. Ele morreu acreditando no seu “Inferno Verde”.

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