Por: AYRTON DIAS

20/08/2023

10:39:22

CACHAÇA, PRODUTO NACIONAL GOURMET

O mercado nacional da mais famosa bebida brasileira já oferece produtos de categoria
CACHAÇA, PRODUTO NACIONAL GOURMET
O jornalista Marcus de Barros Pinto, 63 anos, em suas quase 4 décadas de profissão já vivenciou o dia a dia de redações como do jornal O Globo e Jornal do Brasil. Hoje, atuando no mundo corporativo no cargo de superintendente de Comunicação Externa da Neoenergia., ele continua intensamente apaixonado por profissão, mas nutre o mesmo sentimento pela mais famosa das bebidas brasileiras. “Como ‘cachacier não juramentado’ forjado e criado em Minas Gerais, morador do Rio de Janeiro há quase 50 anos com passagens por Brasília e São Paulo”, esse paulistano de nascimento considera-se verdadeiramente mineiro, por ter sido em Minas Gerais o seu acesso ao rico universo das cachaças de qualidade superior. Para tratar dessa paixão produzimos a seguinte entrevista:

 Qual a sua motivação para buscar conhecimento sobre a cachaça? 

- O conhecimento aconteceu em Minas, por motivo óbvio. Daí veio a paixão! Amor ao primeiro gole. O Mercadão de Belo Horizonte tinha (e tem) lojas
fantásticas, com produtos do estado e, à medida em que você demonstra
conhecimento, eles vão apresentando novos rótulos e marcas. Tempos em que se
comprava uma cachaça premium a R$ 30, R$ 50... hoje podem ultrapassar os R$ 500. Peças para colecionador, não para apreciador.

Depois vieram as feiras na Gameleira, confraria em Brasília, muita leitura, muita degustação, compras seletivas, duas visitas a Salinas, uma a Paraty e uma coleção em casa que já teve mais rótulos e ainda guarda relíquias como a cachaça produzida na fazenda de Norberto Odebrecht, ou na fazenda de Rizoleta Neves (que era presenteada a amigos por Tancredo Neves), uma garrafa certificada da Lenda Mineira, uma de João Andante, que não se faz mais com este nome depois do processo da produtora do whisky Johnnye Walker. Agora é O Andante. 

Quais são os principais tipos de cachaça? 

- As brancas, que saem do alambique para tonéis de aço inoxidável e as armazenadas ou envelhecidas em madeira.

As brancas trazem o sabor da cana mais acentuado. Uma
característica fundamental da boa cachaça: ela não queima  garganta e não dá
dor de cabeça no dia seguinte! O método de produção chamado de artesanal é hoje
de um esmero e controles fantásticos.

A cana deve ser de apenas uma origem, não uma mescla de canas ou cachaças alambicadas em fundos de quintal. As melhores cachaças, antes de entrar no tema das madeiras, são merecedoras de selos como os vinhos franceses (AOC - Appellation d'Origine Contrôlée) ou dos italianos (DOC - Denominazione
di Origine Controllata). As de Salinas, em Minas Gerais, de Paraty, no Rio de
Janeiro, ou as que temos aqui na região de Nova Friburgo e outras próximas.
Todas são produzidas a partir de canas selecionadas, com canaviais desenvolvidos por gerações.

Outro ponto importante: no processo de destilação, é preciso cortar a “cabeça” e a “cauda”. Ou seja, deve-se jogar fora os primeiros litros alambicados e os últimos. Eles têm teores de álcool ruim, quase tóxico, exatamente o que causa dor de cabeça.

As principais madeiras para armazenamento ou envelhecimento são carvalho, umburana ou amburana, ipê, bálsamo, jequitibá, canela, freijó e até
pau-brasil.



As armazenadas ficam até 3 anos em barris. As envelhecidas, de
cinco para cima. Barris de carvalho podem vir dos vinhos – de qualquer origem –
ou de whisky ou Bourbon. Isto dá à cachaça notas de baunilha. Cada uma delas
tem um gosto especial, diferente, resultado da cana e do barril em que ficou, e
quanto tempo ficou. Alambicar é uma arte!
 

A mais famosa bebida brasileira durante muito tempo foi estigmatizada como sendo um produto para um público menos favorecido de renda, isso mudou?

- Estigmatizado sim... mas não por questão de renda. A pinga brava, industrializada, não tem a seleção das canas, o corte de cabeça e cauda e, pelo preço baratíssimo, funcionava muito como um anestésico para a fome. Uma
dose disfarçava a falta de uma alimentação mais rica em nutrientes.

Mas assim como a sandália havaiana era um produto para a base da pirâmide social e a camiseta Hering idem... enquanto eles passaram por intenso processo de marketing, a cachaça foi encontrando apaixonados, que encontraram
produtores apaixonados.

Daí a especialização, a definição de normas, um mercado crescente e um reconhecimento tardio de uma iguaria produzida aqui no Brasil. 

Podemos dizer que a cachaça é atualmente um produto gourmet? 

- Se você vai a qualquer bar ou supermercado em todo o país será capaz de encontrar Seleta, Boazinha e Saliboa. Todas de Salinas. Produzidas no método artesanal mas em quantidades industriais. O fabricante compra cana ou cachaça alambicada de dezenas de produtores da região. Por isso tem tantos pontos de venda. É a Ambev da cachaça.

Isto é completamente diferente de outros produtores que fizeram a fama de Salinas.

Ou de quem produz por aqui perto de Lumiar como a premiada Da Quinta, as da fazenda Soledade, da Atrás da Pedra, da Sete Engenhos, da Werneck, e até a Led Zepelin, alambicada em Minas mas envelhecida e armazenada em barris em São Pedro da Serra.

Tem sabor, tem qualidade na cana, na produção limitada a uma certa quantidade por ano. Não é pinga, não é marvada e tantos outros nomes que existem por aí... como aquelas que vendem em Minas ou em estados do Nordeste com nomes sugestivos ou baseados no humor ou no preconceito. Aquilo é dinamite no seu fígado!

É cachaça, um produto genuinamente nacional, feito aqui mesmo, na região serrana de adjacências, com canaviais selecionados, alambiques de cobre e barris de madeiras especiais.

O preço não chega ao dos whiskies escoceses – uma garrafa ou outra sim, compete com eles – mas são acessíveis para quem busca uma bebida para se tomar com moderação e com degustação, prazer. 

Uma cachaça de excelente qualidade produzida no distrito friburguense de Amparo

Harmonização com cachaça é possível? 

- Claro! Cachaça é uma bebida que pede companhia! Seja de pessoas interessantes ao redor, seja de petiscos ou pratos que possam exaltar o sabor da bebida.

As brancas podem ser a base de caipirinhas com as mais diversas frutas. As envelhecidas ou armazenadas até podem, mas não recomendo, em razão de seu sabor de madeira dever ser ressaltado.

Churrascos, massas, petiscos, pode funcionar de abrideira, de saideira...

Outro truque é por a garrafa no congelador. Como a vodka, ela não congela. Servir uma dose de cachaça tirada do congelador abranda o teor alcoólico... mas só aparentemente! Ela parece suave mas não abuse! Beba sempre com moderação, em qualquer circunstância. Beber deve ser um ato de prazer, não de perda de controle. 

Alguma mensagem? 

- Que todos sintam-se inspirados a visitar o Espaço Brotou, na praça da Euterpe Musical, em Lumiar, em frente ao campo de futebol do Lumiar FC. Ali você encontra comidinhas leves feitas pela Carla, e cachaças que você pode, com amigos, companheiros, companheiras, fazer combinações. Quem sabe uma
degustação das cachaças brancas, prata, de diferentes fabricantes? Ou as de
carvalho ou umburana/amburana de diferentes fabricantes? Ou uma degustação de
diferentes madeiras...

Mais do que valorizar um produto local, nacional, é descobrir que temos uma das melhores bebidas destiladas do planeta, comparáveis aos conhaques, armanhacs, runs, tequilas, piscos, sakês e que tais. 

Tudo feito logo ali!



FRIWEB
ÊXITO RIO
ÊXITO RIO
ÊXITO RIO
ÊXITO RIO
ÊXITO RIO

COLUNA SOCIAL

CHICO VELLOZO QUER SABER! – FESTA ALEMÃ NO FOGÃO A LENHA
CHICO VELLOZO QUER SABER! – FESTA ALEMÃ NO FOGÃO A LENHA
  Entrevistamos os proprietários do famoso restaurante em Amparo. Suerly e Érico Gripp estão preparando um evento inesquecível para comemorar o bicentenário da...

COLUNA SOCIAL

CHICO VELLOZO QUER SABER! - BÚZIOS NA
CHICO VELLOZO QUER SABER! - BÚZIOS NA "MELHOR TEMPORADA"
Em conversa com o presidente do Sindicato de Hospedagem e Alimentação (Sindsol) de Armação dos Búzios, o empresário Thomas Weber, tivemos conhecimento das várias...