Por: ALANA GANDRA - REPÓRTER DA AGÊNCIA BRASIL - RIO DE JANEIRO
12/05/2021
18:23:36
PERFIL GENÉTICO TORNA PACIENTE MAIS SUSCETÃVEL À COVID-19, DIZ ESTUDO
A equipe de
pesquisadores analisou amostras de 20 pacientes que morreram em decorrência do
novo coronavÃrus no Hospital Marcelino Champagnat, em Curitiba, entre abril e
setembro de 2020, e de dez pacientes infectados pelo H1N1 que
faleceram, a fim de comparar os casos. A coleta foi autorizada pelas famÃlias e
pelo Conselho Nacional de Ética em Pesquisa (Conep).
As amostras foram
comparadas também com dez casos de pacientes controle, que não morreram por
causas respiratórias. “A gente estudou, especificamente, uma proteÃna chamada
interleucina 17 (IL-17). Ela tem uma ação antiviral bem conhecidaâ€,
disse hoje (12) à Agência Brasil a professora
da escola de medicina, que participou do projeto, Lúcia de Noronha.
Segundo a médica, já existem várias publicações no mundo sobre a
interleucina 17 (IL 17) no H1N1 e na Influenza.
De acordo com Lúcia,
já havia desconfiança dos pesquisadores em relação ao
perfil genético, pelo fato de alguns pacientes desenvolverem a covid-19 leve,
enquanto outros tinham a forma mais grave da doença. Há casos de, em uma mesma
famÃlia, algumas pessoas pegarem a covid-19 e outras não, outras ainda
ficarem assintomáticas, algumas terem a forma leve.
“A gente já desconfiava de situações como essa, de pessoas que ficam junto a pessoas com covid e não pegam, fazem a forma assintomática, e outras fazem a forma grave.
PADRÃO GENÉTICO
Um aspecto observado
é que, à s vezes, uma famÃlia inteira pega a doença. “Isso aponta para um
padrão genético que possa ter uma suscetibilidade.
Fizemos, então, uma genotipagem por pontos especÃficos dentro do gene, que
são chamados polimorfismos, e que podem estar presentes em algumas pessoas
e em outras não. A surpresa foi que todos os 20 pacientes da covid-19
tinham um tipo de polimorfismo que não aparecia nem no H1N1, nem no grupo
controle. Isso pode estar mostrando que o polimorfismo pode estar deixando a
pessoa mais suscetÃvel à forma mais grave da doença.â€
Em geral, o
polimorfismo produz uma proteÃna diferente, segundo a professora. "Então,
pode ser que ele produza uma proteÃna mais frágil, pouco funcional ou em menor
ou maior quantidade. O polimorfismo muda a proteÃna. Nesse caso, parece que ele
produz menos interleucina 17 e ela tem uma ação antiviral. Então, o paciente
passa a perder essa açãoâ€, afirmou a professora..
Os pesquisadores
estão, agora, fazendo genotipagem de vários outros tipos de interleucina, como
a 4 e a 6. Lúcia de Noronha afirmou que, como não existe um tratamento para
prevenir ou para curar os pacientes da covid-19, “a coisa mais efetiva do
ponto de vista de saúde pública seria proteger os suscetÃveis. É o que
estamos fazendo. O idoso fica em casa, é vacinado antes, o que tem
diabetes também é vacinado antes. Já sabemos quais são os suscetÃveis pela
idade ou pela comorbidade. O estudo genético acrescentaria mais um fator para a
gente encontrar o suscetÃvelâ€, disse.
TES
TESTAGEM EM MASSA
Segundo a professora,
se há outras pessoas além de idosos e pacientes com comorbidades internados
indo a óbito, isso significa que não são esses somente os suscetÃveis. Há
outras pessoas que são suscetÃveis. “É o fator genético. Isso ajudaria na
proteção aos suscetÃveisâ€. Ao mesmo tempo, isso ajudaria a identificar quem
teria mais chance de ter uma covid-19 grave. “Conseguir entender que
além da comorbidade, mais um grupo da população poderia ter mais
chance de desenvolver a doença em sua forma mais graveâ€.
O teste genético é o
único modo de conhecer se a pessoa é mais suscetÃvel ou não à covid. É um teste
simples no qual a coleta de saliva é suficiente para fazer um exame genético no
paciente, mas o único problema é seu valor elevado.
Lúcia afirmou que,
no momento, isso impede a testagem em massa de pessoas, muito menos no Sistema
Único de Saúde (SUS), “mas daria para entender que tem uma população
suscetÃvelâ€.
Na pesquisa, o teste
genético chega a custar perto de R$ 1 mil. A professora percebeu que,
provavelmente, não é um gene só (da interleucina 17). Os pesquisadores vão
testar outros genes. Eles esperam encontrar um perfil genético. “Um perfil que
suscetibilize o pacienteâ€, a exemplo do que ocorre em testes para câncer de
mama, onde os preços variam entre R$ 1,5 mil a R$ 14 mil cada exame.
O estudo dos
pesquisadores da PUCPR, intitulado “Lung Neutrophilic Recruitment and
IL-8/IL-17A Tissue Expression in COVID-19†foi publicado na revista cientÃfica
Frontiers in Immunology, referência na área de imunologia.
Além de pesquisadores
da Escola de Medicina da PontifÃcia Universidade Católica do Paraná,
participaram do estudo profissionais da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e
das Faculdades Pequeno PrÃncipe. O artigo completo pode ser acessado neste endereço.
Edição: Maria Claudia